Representando a comunidade negra brasileira

Tendências / Autenticidade
FG Trade
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Federico Roales
out. 1, 2021
No Brasil, as pessoas negras compõem mais da metade da população do país – a maior população de descendentes de africanos fora da África. No entanto, nos filmes, na televisão e nas propagandas, a sociedade brasileira costuma ser retratada como quase totalmente branca. Essa subrepresentatividade na tela também reflete o fato de a comunidade negra ser assustadoramente subrepresentada em posições de liderança, como executivos de grandes empresas, diretores de universidade ou até mesmo homens e mulheres em cargos políticos.

Durante muitos anos, esse debate foi evitado sob o pretexto de que o Brasil é uma democracia racial, a ideia dominante de que a mistura de etnias impedia que surgissem estruturas racistas de qualquer tipo. No entanto, indicadores como a grande desigualdade no trabalho e na educação, os crimes de ódio, a enorme assimetria na renda e os preconceitos sem fim sofridos pela comunidade negra são prova de que o racismo estrutural ainda prevalece, e continua a ser latente e profundo.
Os brasileiros têm a mais alta aceitação mundial na luta contra o racismo e a favor da justiça social (90%)
O que está acontecendo entre os consumidores? Alinhados com uma conscientização global mais ampla disposta a ampliar as demandas de comunidades subrepresentadas, os consumidores têm notado a urgência do assunto. De acordo com a nossa pesquisa Visual GPS, os brasileiros têm a mais alta aceitação mundial e estão lutando contra o racismo e a favor da justiça social (90%), e a maioria deles se dispõe a enfrentar ativamente a discriminação. Além disso, isso parece influenciar decisões de compra: 3 em cada 4 brasileiros preferem comprar de marcas que apoiam questões sociais.

O interesse cada vez maior na justiça social poderia levar a uma reconfiguração racial: na última década, a porcentagem de brasileiros que se auto‑identificaram como brancos caiu de 48% a 43%, enquanto o número de brasileiros que se auto‑identificaram como negros ou multirraciais subiu de 51% a 56%. Historicamente, muitos afro‑brasileiros escolheram não se identificar como negros para poderem se distanciar do legado de escravidão e preconceitos sociais. No entanto, uma mudança geracional certamente está vindo. Como indica a nossa pesquisa Visual GPS, a auto‑identificação como etnia negra é três vezes mais alta entre a geração Z. Nesse aspecto, as redes sociais são um fator‑chave que contribui para ampliar o escopo de representatividade e visibilidade entre comunidades historicamente silenciadas.
Nossos clientes também parecem ter interpretado essa demanda: pesquisas por “pessoas negras” (+75%), “homem negro” (+82%), mulheres negras (+71%), aumentaram no Brasil no último ano. Além disso, existe um foco em ampliar a representatividade em ambientes de trabalho: pesquisas por “mulher negra computador” (+79%), “mulher negra empresária” (+278%), ou “médico negro” (+81%), também aumentaram nas buscas de nossos clientes brasileiros.

Certamente existe um vão importante entre os desejos dos consumidores por igualdade social e a persistência de desigualdades raciais sistêmicas. Está claro que os brasileiros estão abertos a mudar sua percepção social em relação a ampliar o espectro de representatividade. As grandes empresas e as novas gerações parecem ter notado o assunto e algumas pequenas mudanças estão acontecendo — mas o caminho a ser percorrido ainda é longo.
Ao fazer escolhas visuais, é sempre importante perguntar a si mesmo:

  • Qual é a etnia das pessoas que aparecem em posições de liderança?
  • As pessoas não‑brancas são apenas tokenizadas?
  • Você mostra pessoas não‑brancas demonstrando diversas emoções, com idades diferentes, de gêneros e profissões diferentes?
  • Tem incluído pessoas negras não apenas em imagens de pessoas em grupo?
Comida como cultura