Quando a cor da pele não é mostrada da mesma forma

Tendências / Autenticidade
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Federico Roales
nov. 15, 2022
A falta de representação equitativa é um tópico desconfortável por si só. E embora não seja classificado como um problema característico ou alarmante para a região, os ecos do racismo étnico estrutural e da discriminação baseada na cor da pele ainda estão muito presentes na América Latina. Eles são reforçados ao analisar como afetaram, e ainda condicionam, os níveis de escolaridade, situação de emprego e índices socioeconômicos das comunidades latinas e indígenas de pele escura da região.  

Embora não sejam cobertos diariamente nos principais noticiários, as implicações do colorismo são uma grande preocupação para os consumidores latino‑americanos. O preconceito com base na cor da pele é a principal razão pela qual os latinos acreditavam que eram alvos de discriminação étnica, de acordo com os resultados do VisualGPS. No México, um dos países mais populosos da região, a cor da pele foi classificada como o fator mais determinante que afeta a escolaridade, a renda e as condições de vida. Mais de 55% dos mexicanos declararam ter sofrido discriminação com base na cor da pele.
A comunidade negra na América Latina é visualmente sub‑representada: enquanto se estima que entre 20% e 25% da população tenha algum tipo de descendência africana, os negros estão representados em apenas 10% das imagens e vídeos mais populares do região, de acordo com o VisualGPS. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que sua inclusão apresenta diferenças de acordo com a cor da pele: há uma tendência acentuada de representar pessoas negras com tons de pele mais claros sobre pessoas de pele mais escura. Dessa forma, a inclusão de pessoas de pele escura é quase nula, aparecendo mais em conteúdos turísticos específicos do Nordeste do Brasil ou da costa do Pacífico da Colômbia, ou imagens que buscam mostrar grupos multiétnicos. Os negros de pele escura estão sempre cercados por pessoas de outras etnias, mas raramente interagem com pessoas do mesmo tom de pele juntos como uma comunidade.

E quando se trata da representação das comunidades indígenas? No México, por exemplo, estima‑se que a população indígena seja de aproximadamente 15,1% (mais de 16 milhões de pessoas), enquanto na Argentina existem mais de 36 comunidades indígenas. No entanto, essas comunidades permanecem completamente invisíveis para as instituições públicas, assim como para o imaginário cultural coletivo da sociedade; tanto que sua representação visual nas imagens e vídeos mais populares é inferior a 1%, segundo o VisualGPS. Esses percentuais são apenas a fração visível, e o resultado de uma construção histórica das nações latino‑americanas a partir de uma cidadania europeia branca e aspiracional, onde pessoas com outros tons de pele foram deslocados e tachados de estrangeiros em suas próprias pátrias. 
Esses depoimentos nos dizem o tipo de conteúdo que está faltando, o que não vemos em termos de representação visual: cenas da comunidade negra negra e de pessoas de ascendência indígena em seu cotidiano (reuniões de família, compras, idas ao trabalho ou práticas de esportes). As imagens atuais carecem de um elemento crucial: elas não fornecem aquele pano de fundo cultural que inclui a tradição comunitária desses povos.

O que as marcas devem levar em conta nesse cenário?  Se considerarmos que 3 em cada 4 consumidores latino‑americanos esperam que as empresas mostrem visualmente seu estilo de vida, as histórias visuais devem promover autenticamente a diversidade étnica que caracteriza a América Latina. Deve haver um foco especial em tornar as comunidades negras e indígenas protagonistas, focadas em seus ambientes cotidianos, suas famílias, seu lazer e seu trabalho, e também representadas com outros membros de suas comunidades.
[1] Culturas del Antirracismo en América Latina ‑ (University of Manchester)
[2] Forbes Mexico
[3][4] INAGI, México. 2.017
[5] World Bank, 2.018.
[6] IWGIA, México. 2.021
[7] DW. 2.021
O cotidiano gratificante das pessoas com deficiência