A Luta Contra o Preconceito Corporal na América Latina

Tendências / Autenticidade
Agostina Valle
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Federico Roales
nov. 16, 2021
Nos últimos cinco anos, movimentos feministas como “Ni Una Menos”1 lentamente mudaram atitudes públicas e transformaram nossa compreensão do papel de gênero e da necessidade de igualdade na América Latina. Esses movimentos também destacaram como os padrões de beleza hegemônicos impactam a imagem corporal. E apesar das grandes conquistas em termos de direitos adquiridos, ainda existem muitos preconceitos a serem desconstruídos nessa área: sofrer julgamentos por ter um determinado tipo de corpo é algo comum nos países da América Latina, e isso, atualmente, representa o maior preconceito entre os consumidores latino‑americanos, principalmente entre mulheres jovens.
De acordo com nossa pesquisa do Visual GPS, 1 em cada 3 consumidores latino‑americanos já enfrentaram preconceito em relação à imagem corporal no ano passado, mais do que em qualquer outra região do mundo. Esse número aumenta para quase 1 em 2 ao se considerar apenas a Geração Z. Isso pode sugerir que os mais jovens, que são mais expostos a críticas devido ao uso de mídias sociais, são os mais afetados por esse preconceito.2 Além disso, a discriminação corporal afeta as pessoas de modos diferentes de acordo com o gênero: 67% das mulheres latino‑americanas que sofreram preconceitos em relação ao corpo eram vistas como gordas ou voluptuosas demais, em comparação a 44% dos homens (uma diferença de mais de 23%). Os corpos das mulheres são mais julgados por estarem acima do peso.

Apesar de movimentos crescentes nas mídias sociais, como o #BodyPositivity3, os consumidores têm exigido imagens que quebrem estereótipos principalmente na publicidade e na moda. Os corpos visualizados em comerciais e os tamanhos de roupa oferecidos em lojas não atendem de modo suficiente a diversidade de corpos. De acordo com a ONG AnyBody, 4 em cada 5 consumidores argentinos declararam4 ter tido problemas para encontrar roupas de seu tamanho, e 47% dos que não conseguem encontrar um tamanho acabaram questionando o próprio corpo devido a isso. Apesar de haver algumas iniciativas tentando derrubar esse efeito (como o Sizes Law5 recentemente apresentado na Argentina), essa lacuna entre a imposição hegemônica e a autêntica diversidade de corpos gera opressão e desconforto naqueles que não se encaixam no padrão, e isso costuma afetar as mulheres de modo profundo. Quase 9 em cada 10 mulheres acham que a imagem física afeta  a satisfação em relação à vida, e 86% já deixaram de lado uma atividade porque não se sentiam confortáveis com seus corpos.
Parece que para os profissionais de marketing existe uma intenção (consciente ou inconsciente) de tornar invisíveis os corpos que não se adequam às regras hegemônicas de estética: apenas 1% da maioria das imagens usadas na América Latina mostram corpos de tamanhos maiores. Além disso, 41% dessas imagens mostram pessoas fazendo dieta ou praticando hábitos saudáveis (exercícios ou corrida). Dessa maneira, as pessoas com corpos de tamanho maiores são forçadas a existir apenas para adaptar seus corpos ao padrão hegemônico.

Quase metade dos consumidores da América Latina querem que as empresas se comprometam com a diversidade e com a inclusão em seus anúncios ou comunicações. É preciso levar em conta que campanhas que mostram imagens reais de corpos diversos são recebidas de modo positivo por audiências latino‑americanas. 
Então, o que você pode fazer como marca? Desafie seus estereótipos inconscientes e pergunte: você tem incluído corpos não‑hegemônicos em sua marca? Você os tem mostrado fora desse padrão limitador? As pessoas mostradas estão levando a vida de maneira feliz e plena? Elas são mostradas em posições de poder? Elas são estão felizes com seus corpos?
Representando a comunidade negra brasileira